Algumas informações sobre o pensamento psicológico produzido no período
colonial podiam ser encontradas no artigo de Samuel Pfromm Netto, intitulado “A
psicologia no Brasil’. Entretanto, somente a pesquisa pioneira realizada por
Marina Massimi. Concluída em 1984, trouxe extenso e minucioso estudo sobre essa
temática. Com base nesse trabalho, procuraremos tão somente traçar uma breve
caracterização da produção referente aos fenômenos psicológicos nesse período.
As mais antigas bases sobre as quais, mais tarde, veio à psicologia a se
estabelecer no Brasil são reveladas pelo pensamento psicológico produzido nesse
momento, denominado por pessotti como período pré-institucional da psicologia,
por não terem as obras então produzidas vínculos diretos com instituições
especificas, como viria a acontecer posteriormente.
A preocupação com os fenômenos psicológicos aparece em obras oriundas de
outras áreas do saber, tais como: Teologia, Moral, pedagogia, médica, política
e até mesmo Arquitetura; encontram-se, nestas, partes dedicadas ao estudo,
análise e discussão de formas de atuação sobre os fatos psíquicos.
Os autores brasileiros, com exceção de algumas que, embora tenham
nascidos em Portugal, aqui passaram a maior parte de suas vidas. Em geral,
tiveram formação jesuítica e cursaram universidades européias, particularmente
a universidade de Coimbra.
A maioria desses autores exercia função religiosa ou política tendo
vários deles ocupado importante cargos na colônia ou na metrópole.
As obras são impressas na Europa, sobre tudo em Portugal, pois ainda não
havia imprensa no Brasil. Encontram-se nessas obras preocupações com os
seguintes temas: emoções, sentidos, auto-conhecimento,educação de crianças e
jovens, características do sexo feminino, trabalho, adaptação ao ambiente,
processos psicológicos , diferenças raciais, aculturação e técnicas de
persuasão de “selvagens”, controle político e aplicação do conhecimento
psicológico á pratica medica.
São encontradas referencias sobre emoções e pratica de seu controle ou
“cura”, geralmente em sermões de edificação ética- religiosa, de autores como
padre viera, frei Mateus da encarnação pinna e padre Ângelo ribeiro de
sequeira; em obras de filosofia moral, como a de Mathias Aires ramos da silva
de Eça, e obras medicas, como as de Francisco
de melo franco.Tais obras apontam para analise de âmbito comportamental
e tratam de assuntos como:amor. Saudade. Vaidade. Ódio ou tristeza. Sobre isso,
Massimi (1987.p.100)afirma: ”As emoções, chamadas de ‘paixões’, são
consideradas pelos autores ‘forças’ potentes e cegas que, se excessivas podem
afetar o equilíbrio do organismo, tornando-se ‘enfermidades ‘.”
No estado da Bahia, devido a preconceitos, resistências,
o início do curso teve um atraso de uma década. Essas são as causas do atraso
que retardou o objetivo de João Ignácio de criar o curso de Graduação em
Psicologia na Universidade Federal da Bahia. Nas décadas de 50 e 60, ainda
imperava o domínio do ensino médico que por tradição possuía alto nível de
status social. Sendo assim, o nascimento de um curso de Psicologia ameaçava uma
área profissional até então ocupada por médicos de várias especialidades e até
mesmo por clínicos gerais.
Na Bahia, Nina Rodrigues (1939) aplicou o paradigma ao contexto social
no final do século XIX produzindo conhecimentos sobre aspectos do ambiente
cultural, de tipos humanos, do comportamento de grupos e de pessoas.
Nina Rodrigues falou do atraso econômico do estado Baiano á predominância de negros e aos mestiços, que, com suas doenças, tradições
e costumes e crenças, influenciavam a população. E concluiu que tanto a
decadência do estado quanto o caráter epidêmico da doença conformavam uma enfermidade
decorrente de uma e patológicas.
A descrição antropológica que daria sustentação á sua análise de movimentos
sociais.
Rodrigues se inspirava na produção científica de europeus que tornava
patológicos os conflitos da vida cotidiana, situou os seus estudos sobre
movimentos de massa como constitutivo da psicologia social.
Uma parceria da cadeira de Psiquiatria com o Instituto de
Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas, propiciou em
1955, treinamento em técnica de entrevista e testes projetivos para alunos da
área médica da Universidade. Devido a reivindicações do professor João Mendonça
e de um grupo de estudantes, não foi possível excluir os alunos de Pedagogia e
Filosofia. Esta parceria criou, em 1958 o Instituto de Orientação Vocacional. Devido a esta iniciativa de criação do IDOV, o instituto terminou sendo constituído por alunos recém
formados dos cursos de Filosofia e Pedagogia e por alguns profissionais mais
experientes da mesma área.
Apesar de o IDOV
ter sido criado como órgão suplementar, o Professor João Mendonça alimentava o
sonho de um dia ele também ser um espaço natural Em 1961, mudanças ocorridas
nas estruturas de poder da Universidade levaram o Professor João Mendonça a
solicitar providências para a criação do curso de Psicologia. A viabilização
dependia de modificação no regimento Interno da Faculdade de Filosofia. Mesmo
assim o projeto foi aprovado. Porém depois de o projeto adormecer por um ano na
Reitoria, João Mendonça reiterou a solicitação ao Conselho Departamental, ao
tempo em que comunicou a aprovação da Lei Federal 4.119, de 27 de agosto de
1962, que regulamenta a profissão de psicólogo no País.
A psicologia passa a ter um conhecimento próprio
tornando-se detentora de um determinado mercado de trabalho, ainda que
compreendido entre a medicina e educação.
Referências:
Brasil, lei n°4.119 de 27 de agosto de 1962;
Decreto, lei n°. 53.464 de 21 de janeiro de 1964;
Conselho federal de psicologia, (1988), Quem é o
psicólogo brasileiro? São Paulo.
A psicologia no Brasil, Mitsuko Aparecida Makino Antunes